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O Enigma do Homem do Granito - CAPÍTULO 7 FINAL
O Enigma do Homem do Granito - CAPÍTULO 7 FINAL

NOTA AO LEITOR: PARA SUA TOTAL COMODIDADE, ESTE LIVRO PODE SER LIDO NA ÍNTEGRA POR VOZ NEURAL SINTÉTICA, BASTA VOCÊ CLICAR NO BOTÃO LOCALIZADO AO FINAL DESTA PÁGINA!

 

 

          Capítulo 7 - Epílogo

 De mãos dadas com a lenda

 

Durante a viagem para a capital do estado, de onde embarcaria com seus três companheiros de volta para o Sudeste, a doutora Nieyde permaneceu reflexiva à janela do clássico aviãozinho Piper Cherokee. Olhava absorta para a selva exuberante que se estendia infinitamente até desaparecer no horizonte nevoento. Não conseguia parar de pensar na velha Hermínia Marieta e a maneira concludente e enfática como a idosa sustentava sua aparente veracidade concernente às declarações sobre o “homem de barro” que supostamente vira.

 

Mesmo para uma pessoa extremamente culta como a doutora Nieyde, certas situações exigiam ponderação e flexibilidade. Não podia se manter impassível e incrédula. Isso seria ignorância demais. Tantos são os mitos que desde gerações remotas nos encantam e assombram. E é possível que em cada um deles existam vestígios de verdade. Por que então lançar improbabilidades sobre o relato da anciã dona Hermínia Marieta com relação ao tal “homem de barro”? No entanto, por mais que a doutora Nieyde não quisesse, as dúvidas eram persistentes e a atormentavam. Estavam ali, atreladas à sua recém-nascida credulidade. Tudo soava como uma sombria e insondável incógnita. Seria possível que o tal “homem de barro” e o “homem do granito” estivessem de algum modo relacionados?

 

Mas ela estava exausta demais e acabou adormecendo em meio a seus pensamentos mais confusos. Não seria a última vez que a doutora Nieyde voltaria àquele lugar. Outras vezes se seguiriam na busca ao “homem do granito”, ou o “homem de barro”, como o chamavam o povo simplório da região. Ela não conseguia desistir, como uma obsessão. Anos de investigação a levaram a uma cidade do sul de Minas Gerais. A análise de vários documentos antigos por sua vez a conduziram a uma velha casa numa região montanhosa, onde ela conheceu uma simpática senhora centenária, que segundo a família, aguardava há pelo menos oitenta e cinco anos o retorno do esposo desaparecido no início do século passado, deixando-a com três filhos. O mesmo teria partido com um amigo, levados por certa notícia de que havia sido encontrada uma grande reserva de ouro nos confins do mundo.

 

A partida dos dois amigos teria se dado no dia seis de agosto de 1900. Uma semana de viagem a cavalo conduziu os dois até o destino de seus sonhos de riquezas. Sonhos que duraram três semanas para um dos dois, que desistiu desesperançado e retornou para casa, deixando lá o amigo persistente. O amado esposo daquela velha senhora.

Por uma semana a doutora Nieyde ficou no lugar, a fim de investigar mais a fundo a história. Voltou inúmeras vezes para conversar com a centenária, que comprovadamente estava com cento e dez anos de idade e uma lucidez impecável. Tudo que a idosa dizia a respeito de seu esposo desaparecido, do rumo por ele tomado, da época, enfim. Tudo fazia sentido e parecia convergir no “homem do granito”. Quando a doutora quis saber se o desaparecido possuía algum item pessoal de estimação, a velha senhora foi clara e rápida: “Um rosário de madeira que eu lhe dei de presente!”

A doutora Nieyde estava impressionada com as evidências. Por fim, convencida e diante da fragilidade da centenária senhora, contou o por que de sua investigação. A velhinha ouviu tudo com muita atenção, enquanto um fio de lágrimas brotava de seus olhos claros, banhando suavemente seu rosto enrugado. No fim de tudo, ela apenas sussurrou:

“É isso mesmo. É a vida, minha filha.”

Naquele dia toda a família se reuniu e chorou junta. Eram seis gerações reunidas em torno da mesma emoção. À noite, dona Joana Domingues, aliviada pelo fardo da longa espera, estava lívida em sua tristeza de saudade. Ao amanhecer o dia ela não acordou. Dormira para sempre o mais antigo elo da família, indo finalmente se juntar ao seu amado na espera que conduz a Deus.

 

Mesmo assim, a busca pelo corpo do “homem do granito” não teve fim. Por alguma razão a doutora Nieyde não conseguia parar. Anos e mais anos de investigação fervorosa, indo e vindo, e ficando cada vez mais, não poderiam se passar sem que ela se apegasse ao lugar e ao povo local. E dessa forma, ela não apenas acabou por mudar-se para a aconchegante e sossegada cidadela, como acabou por fundar um museu na cidade. O “Museu do Homem do Granito”.

Era inevitável que a minúscula cidade crescesse em torno de sua lenda. Atualmente, em sua única praça, duas estátuas chamam a atenção dos visitantes. Duas estátuas em tamanho natural, de mãos dadas. A doutora Nieyde e o “Homem do Granito”. Foi a maneira que a população encontrou de homenagear sua cidadã mais ilustre, que trouxe nome e prosperidade à cidade, e seu personagem mais famoso.

 

Hoje, aos setenta e cinco anos de vida, a doutora Nieyde continua em plena forma. Está em plena atividade e no auge de sua carreira. Seus trabalhos arqueológicos são reconhecidos mundialmente.

Recentemente decidiu-se fazer um funeral simbólico em nome do “homem do granito”, ou como o nomeara a velha Hermínia Marieta, o “homem de barro”. Ele foi aclamado, honrado e sepultado, e finalmente a doutora Nieyde se resignou e o deixou descansar em paz.

 

                     Fim