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BRASIL: DO CAOS AO CAOS - PARTES 1, 2, 3, 4
BRASIL: DO CAOS AO CAOS - PARTES 1, 2, 3, 4

NOTA AO LEITOR: PARA SUA TOTAL COMODIDADE, ESTE LIVRO PODE SER LIDO NA ÍNTEGRA POR VOZ NEURAL SINTÉTICA, BASTA VOCÊ CLICAR NO BOTÃO LOCALIZADO AO FINAL DESTA PÁGINA!

Sinopse

Numa fria, crua e cruel analogia do Brasil, o autor trata de um tema há décadas corrente no país: a corrupção em larga escala que assola o país, tratada no livro como corrupção estrutural. Diante da quase impossibilidade de uma solução racional para o vergonhoso problema, dada a arraigada situação de ausência de moralidade política e da evidente mentalidade corruptível e de desprezo para com a população, especialmente a mais fragilizada, surge então uma questão bastante controversa: seria a carnificina de uma guerra civil a única solução para um país assolado pela falta de escrúpulos político e cada vez mais envolvido com a corrupção estrutural?

 

 

Informações adicionais
PESO: 0,230769 kg
DIMENSÕES: 21 × 29,7 × 0,5 cm
EDITORA: UICLAP
Nº PÁGINAS: 80
TAMANHO: 21 x 29,7 cm
CAPA: Fosco, SEM orelha
IMPRESSÃO: Preto e Branco (Papel Offset)
FAIXA ETÁRIA RECOMENDADA: 16 ANOS
ANO: 2018
DATA DA PUBLICAÇÃO: 14/01/2022
EDITORA: UICLAP
TÍTULO ORIGINAL: BRASIL: DO CAOS AO CAOS - A GUERRA CIVIL QUE ACABOU COM A CORRUPÇÃO E DESPERTOU O GIGANTE ADORMECIDO!
AUTOR(A): Nyll Mergello

 

Introdução

 “A CORRUPTA ORDEM ESTABELECIDA PRECISAVA SER ERRADICADA PELO CAOS”    

 

Iníquos são os corações dos governantes do povo. Enriquecem com ações injustas, e roubam para si a torto e a direito, sem respeitar a propriedade sagrada ou pública.

                                                   Sólon

Primeira Parte
O Começo do fim

“Era desnorteante e até embaraçoso imaginar os extremos que o ser humano pode chegar, seja em prol de algo banal, por uma vingança qualquer ou mesmo por alguma outra razão que ele próprio desconheça. Simplesmente desconcertante contemplar toda aquela horripilante vergonha e se manter neutro, imparcial, mesmo em minha função jornalística.


A guerra nunca me parecera algo tão abjeto e deplorável. Criado numa família protestante francesa, eu era bastante familiarizado com a Bíblia, onde achava que tinha todas as respostas de que precisava. Mas ali, a Bíblia nunca me parecera tão impotente, tão desprovida de argumentos. A que ponto o belo e pacífico povo brasileiro havia chegado?


Tudo era tão inconcebível que mais parecia um pesadelo, desses que a gente se esperneia para acordar e mesmo depois de acordado ainda imagina estar vivenciando a aterrorizante fantasia de nosso inconsciente mais recôndito e sombrio. Qual a fronteira entre a razão e a loucura? Sim, porque naquela guerra entre irmãos, tudo parecia proibido, ilegal e imoral. E no entanto, lá no fundo, todos achavam que aquela era a única maneira de fazer a coisa certa, mesmo quando tudo parecia estar errado”.


Segunda Parte
Os sons do silêncio

Aquilo ia contra todo o bom senso e espírito pacífico dos brasileiros. Não era possível que a nação mais hospitaleira do mundo, de onde se originavam as mulheres mais lindas, subitamente voltasse à barbárie. Não fazia sentido. Na verdade, nada mais fazia sentido. E se alguém quisesse enlouquecer tentando encontrar justificativas, era só parar para refletir sobre o passado recente, antes do povo recorrer às armas como solução final para todos os problemas que afligiam o país. Fora tudo tão veloz e inesperado, que era até difícil de acreditar. Então melhor não pensar e fazer o que tinha que ser feito. Simples assim. Macabro assim. Irracional assim. Selvagem assim. Traumatizante assim.


Enfim, tudo era muito confuso de ser compreendido, digerido e assimilado, até mesmo pela repentinidade da eclosão da guerra, cujo estopim fora algo absolutamente inusitado e muito, mas muito banal. Aviões bombardeiros cruzavam os céus, e caças em formação deslizavam rumo às fileiras revolucionárias no interior do sertão, onde a carnificina rolava solta. As imagens que chegavam de lá eram estonteantes. A artilharia de ambos os lados era incessante e iluminava as noites enluaradas, regando com sangue a terra sedenta de água, num horrendo e discrepante contraste com a bela e inocente poesia cantada que dizia: “não há, ó gente, ó não, luar como esse do sertão”.


Certo líder revolucionário pernambucano de muita influência e que ficara bem conhecido nos anos setenta durante o regime militar – sob o qual sofrera severa perseguição às mãos da polícia – fez um comentário considerado inicialmente bastante confuso, mas que só veio a ser interpretado em sua essência com o decorrer da revolução que eclodiria naquela feroz guerra civil: “Eu não sou a favor da desordem e do caos inconscientes, mas da consciência e ordem que podem advir do caos”. Mais de quarenta anos depois das torturas sofridas e dos companheiros aniquilados, ele sentia renovado seu ódio contra um sistema que continuava distante de ser o ideal. No ínterim, sua indignação para com as decadentes, incompetentes, violentas e assassinas instituições de manutenção da ordem pública brasileira era uma força motivadora que alimentava em seu âmago o desejo pela guerra civil. Mas não era só ele. No fundo, era exatamente o que toda a população desejava: algo radical que fizesse o sistema corrupto e doente sucumbir de maneira irremediável.


Revolução, guerra civil, levante popular, etc. Palavras-chaves principais nas buscas do ex-guerrilheiro pernambucano que nutria sentimentos repreensíveis pelas instituições públicas e um ódio desproporcional contra as instituições policiais e de segurança de onde quer que fossem. Oriundo de uma família de militares, seu pai, um velho coronel do exército, costumava dizer que ele era “a ovelha negra da família”, “a parte podre da maçã”. “Você cospe no prato que come, seu comunistinha de araque!”, dissera-lhe certa vez seu pai aos berros, ciente de suas ações subversivas e dos perigos que isso representava para sua vida.


No ínterim, ele sabia que seu pai se preocupava e não queria que ele acabasse dentro de alguma valeta por aí, com a boca cheia de formigas. Muito provavelmente sua sobrevivência durante a ditadura tenha sido por conta da influência de seu pai e de outros membros da família que engrossavam o poder do regime. Mas a influência de sua família não foi o suficiente para impedi-lo de conhecer os horrores da metodologia usada pelos militares para obter confissões. As torturas eram não apenas brutais, mas executadas de modo extremo. Desprezando gênero e idade, a frivolidade era a mesma.


Os procedimentos eram de uma crueldade digna do próprio satanás, e muitos não suportavam, sucumbindo sob a crueldade. Na atual conjuntura, entretanto, o ex-guerrilheiro sabia que o apoio e adesão das Forças Armadas eram essenciais para o êxito da revolução. Muitos militares insatisfeitos estavam se bandeando continuamente para os revoltosos, mas ainda não era suficiente. Por enquanto, e por algum tempo ainda, o avanço das forças do Governo, com seus carros blindados, aviões de ataque e helicópteros que lançavam o terror sobre os insurgentes ainda pouco organizados, causavam perdas consideráveis nos campos de batalha. No ínterim, antigas mágoas reprimidas, traumas latentes vívidos como a própria loucura eram a justificativa para perseguições e massacres.

Era o fim da racionalidade e da razão. Os sãos ficavam loucos e os loucos, cada vez mais insanos. Para o revolucionário pernambucano, era algo absolutamente familiar, quase intrínseco. Loucura externada à extenuação quando em seus raros momentos de solidão no porão blindado de sua casa em Recife, se curvava diante do santuário aos mártires do regime militar, ex-companheiros de juventude, estudantes e idealistas de um país mais justo. Santuário que clamava por vingança. Uma cobrança que lhe sobrevinha em persistentes sonhos noturnos, sempre na sórdida forma de um macabro cavaleiro negro a empunhar sua espada judicial ensanguentada em meio a um mundo de corpos humanos fardados, tanques de guerra destruídos, aviões em chamas e um céu tenebroso, repleto de aves necrófagas. Eram visões de um mundapo* tão real e estarrecedor que chegava a causar arrepios até nele mesmo. E o mórbido sonho se repetia periodicamente. Era o apocalíptico cavaleiro sem rosto sempre voltando para atormentá-lo, como prenúncio de algo ainda por vir. Cavaleiro que antes de partir na escuridão, desferia golpes relâmpagos com sua espada chamejante contra o estandarte nacional, cortando-o em seis partes, que esvoaçavam pelos ares e uniam-se sobre um círculo de fogo em constante movimento.


A revolução conduziria a uma sangrenta guerra civil. Com a guerra civil, todas as mágoas adormecidas despertariam. Os massacres se tornariam algo tão rotineiro quanto o estupro. E as minorias seriam um alvo perseguido à exaustão, exauridas ao máximo de sua resistência e até mesmo de sua autoconfiança.


Terceira Parte
“Nós éramos felizes e não sabíamos”

Nada mais parecia fazer sentido. Os combates incessantes e ferozes se desenrolavam nos campos e nas cidades, onde já não existia mais “a sensação de estar sempre atrasado”. Na verdade já não existia mais qualquer atividade rotineira, vida social ou o saudoso estresse do trânsito acalorado e barulhento. Aquilo que outrora era até uma chatice para a maioria dos habitantes da metrópole, agora era pura nostalgia. “Nós éramos felizes e não sabíamos, essa é a grande verdade.”


Dizem que toda mangueira do mundo é descendente de uma árvore mãe lá pros lados do Himalaia. Da mesma forma, podemos dizer com toda convicção que todos os problemas brasileiros eram provenientes da corrupção, que no Brasil era quase cultural. Desvios descarados de dinheiro dos cofres públicos traziam consequências gravíssimas e só aumentavam os padecimentos da população, já assombrada com a educação precária, o sistema carcerário decadente, a saúde pública cambaleante, leis fracas e cheias de brechas, salário de fome, super cargas de impostos, a burocracia (ou seria burrocracia?) que tornava tudo muito lerdo, polícias totalmente despreparadas para lidar com o ser humano (o lema sempre foi atirar primeiro e perguntar depois), descaso com os idosos e com os jovens, indiferença para com as classes marginalizadas, pouco esforço para reduzir as diferenças sociais através de uma distribuição de renda mais justa... E ainda existia a situação precária de milhares de crianças, jovens e adultos viciados que infestavam as grandes cidades, os quais além de se tornar um sério problema de segurança e até de saúde pública, acabavam por encontrar refúgio na coletividade viciosa e imunda das cracolândias da vida, como sub-humanos, desfavorecidos e negligenciados por uma sociedade indiferente, hipócrita, segregacionista e egoísta, voltada exclusivamente para seus próprios interesses materialistas.

Por outro lado, governos incompetentes e irresponsáveis faziam vista grossa ao problema ou deixavam a situação relegada a um plano secundário, insistindo em não criar uma política séria de conscientização e recuperação de dependentes químicos. Some-se a tudo isso, os constantes dramas de famílias vitimadas pelo flagelo da violência sempre crescente, consequência da insegurança pública (Na verdade, no Brasil não deveriam existir secretários de segurança pública, e sim de INSEGURANÇA PÚBLICA).


Meu Deus, quanta gente vitimada por balas perdidas e balas “perdidas”, de crianças e adolescentes a mulheres e idosos, indiscriminadamente. Quantos cidadãos decentes tombando vítimas de fatalidades e “fatalidades”. O Brasil, antes de tornar-se um caos, já era o próprio caos. Que vergonha tínhamos de ser brasileiros e brasileiras, filhos do país da corrupção e da impunidade.


Não parecia haver qualquer solução a curto prazo, pois o problema dessa impunidade e da referida corrupção desenfreada, era algo praticamente arraigado, qual um componente essencial da política brasileira. Um ciclo vicioso que sustentava corrompedores e corrompidos em detrimento do povo sofrido e cada vez mais massacrado pelo sistema implacável e decadente. Nossas instituições, como um todo, estavam contaminadas. Somente uma ação extrema resolveria o problema de uma vez por todas. Porque um resultado tão profundo não seria conquistado somente com debates e protestos.


As multidões faziam a sua parte, acorrendo às ruas, com seus gritos e palavras de ordem, com seus panelaços e prenúncios de insurreições nunca concretizadas. Mas o povo estava habituado a blefar, e nunca sairia da mesmice se não surgisse um movimento com uma liderança corajosa e ousada, com potencial para recorrer a métodos menos civilizados, pois era necessário sair do tradicional comodismo brasileiro. A necessidade de abdicar de nossa notória covardia era urgente – para ontem, não para amanhã.


Nem mesmo um empeachment* valia a pena. A situação não pedia a retirada de um governo, que seria substituído por outro ainda pior. Um empeachment não resolveria os problemas da crise sem precedentes na história do país, apenas mudaria o foco das atenções, destarte protegendo um dos maiores corruptos da história do Brasil e direcionando o foco rumo à presidência da República – que não deixava de ser o ponto de infecção –, mas que àquelas alturas passava a ser também o bode expiatório perfeito. Ou seja, o empeachment era na verdade um grande golpe de mestre. Uma pilantragem política ardilosa e bem arquitetada pela oposição, e que tinha tudo para dar certo.


O apoio era geral, não que aquilo fosse conveniente ao país naquele momento dramático, mas porque todos estavam envolvidos em maracutaias, e portanto pisando em gelo fino, protegidos de terrível chuva de granizo sob um teto de vidro. Em suma, todos tinham rabo preso. Era então prudente ficar do lado certo, mesmo que este lado fosse o errado. Apesar que no meio político, o certo e o errado são absolutamente relativos, companheiros e cúmplices inseparáveis, andando sempre de mãos dadas, pois são parceiros na prática da injustiça e na divisão dos despojos dos oprimidos.


Tornara-se imperativo que algo muito mais surpreendente e radical acontecesse, pois fosse lá o que viesse, as consequências não poderiam deixar o país pior do que já estava. Enfim, estava aberto o caminho para a supressão do diálogo, que nunca levara a nada. Não no Brasil, onde era costume muito se falar, muito se prometer, porém nada jamais ser cumprido. Somente a lei da força poderia fazer reluzir a luz da razão e da verdade. A injustiça era a solução para as falhas da justiça. Era o momento certo para desaguar as mágoas há muito reprimidas. Não. Reprimidas não me parece o termo correto ou mais apropriado. Engasgadas. Sim, engasgadas é mais apropriado. Era o momento certíssimo para desaguar todas as mágoas há muito engasgadas na garganta e no coração do povo.

* ¹ Processo instaurado com base em denúncia de crime de responsabilidade contra alta autoridade do poder executivo (p. Ex., Presidente da República, governadores, prefeitos) ou do poder judiciário (p. Ex., ministros do S.T.F.), cuja sentença é da alçada do poder legislativo.
* ² Destituição resultante deste processo.
* ³ Impedimento legal da continuidade do mandato de um Chefe de Estado.

Quarta Parte
Na onda da maconha

A letra de uma música composta por certo jovem que no futuro se tornaria um destacado revolucionário, cujo título é bastante polêmico, combinava perfeitamente com a situação vigente naqueles tempos críticos que precediam a calamidade nacional.
Intitulada “na onda da maconha”, a letra diz em determinado trecho:


Cambaleando na estrada do futuro / Fumaça no ar (nuvens de um verão impuro) / Faz frio pra cacete aqui na solitária / Sob a força do porrete / A penitenciária é o local de descanso / Da moçada varonil / Educada pra fazer o futuro do Brasil / O país campeão de tudo que dá nojo / (Ah!, a miséria do povo!) / Prometam de novo / eleitos do povo / Juro que nunca mais acreditarei em vocês / (Eu não sou burguês / deixei de ser freguês) / Lhes dei minha confiança / Pois vi a esperança no olhar de vocês / (Quem confia sem desconfiar, dança) / Não sou mais criança / (preciso crescer de vez) / Agora me desculpem / (A safadeza é medonha) / Melhor eu ir fumar um cigarro de maconha


O descaso das autoridades, a corrupção vergonhosa em desfavor da população sofrida, o desrespeito para com os idosos, os hospitais lotados e o péssimo atendimento, o alto índice de desemprego, a horrível qualidade da merenda oferecida nas escolas (ou mesmo a falta dela, quando não da própria escola); a opressão das polícias marrentas, autoritárias, despreparadas e cheias de culpa de sangue inocente; políticos corruptos e investigados, mas que continuavam descaradamente a exercer suas funções...


Enfim, tudo constituía uma vergonha escandalosa que só deixava mais e mais claro o lamaçal do sistema falido, no qual a máquina do governo só parecia ter um objetivo: oprimir e esmagar o povo já sobrecarregado e no limite de sua razão. Uau! Os padecimentos do povo eram tão absurdos que chegava a ser absurdo considerá-los simplesmente como absurdos. Os motivos eram tantos que tornava difícil enumerá-los. Tudo era um convite para a explosão de uma guerra civil. E ela chegou, enfim, para pôr fim à desordem e ao caos, por intermédio do próprio caos e da desordem. Na verdade aquela guerra civil foi a síntese de todo um conjunto de complementos favoráveis que já se manifestavam há várias gerações. Foi uma catástrofe previamente anunciada que, ironicamente, não deixou também de ser uma dádiva para uma nação sofrida.