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CAPÍTULO 3
A GRANDE CAÇADA AO BARBATÃO
Montado em seu cavalo agitado
Acostumado a perseguir gado,
José adentrou a caatinga, enfadado
À procura do cruel touro fujão.
Olhos invisíveis pareciam acompanhá-lo
Guiando-o por sobre o chão na caçada ao barbatão.
As pistas eram um indício evidente
E até meio que um tanto proposital.
Como se o touro quisesse ser achado,
Numa atitude meio que racional.
Mas José perscrutava os vestígios
Sentindo arrepios na região da espinha dorsal.
Tudo indicava nítida e claramente
Que o animal vingativo e bandoleiro
Seguira pela depressão do rio decadente,
Na direção do velho pé de juazeiro,
Localizado léguas à frente
Ao sopé do outeiro do fazendeiro.
CAPÍTULO 4
A LENDA DO TOURO NEGRO
Dizia certa lenda que um fazendeiro,
Lá pros tempos do Príncipe Nassau²,
Forçou o filho herdeiro, um moçoilo,
A montar um touro negro com cara de mau.
O rapazola, no intento filial de agradar o pai,
Montou, mas levou um tombo fatal.
O homem, cheio de amargura e remorso,
Com a culpa de sangue a assolar seu coração,
Levou o jovem touro rumo ao sertão.
Porém, jurou que só descansaria quando encontrasse
Um lugar à altura de sua execução
(pois o animal gozava de muita estimação).
Após três dias de penúria e cansaço,
Avistou um belo exemplar de juazeiro,
Localizado no sopé de um outeiro,
Nascente de um cristalino riacho,
Onde apearam, pois o lugar era digno
De presenciar os lamentos de um macho.
Tal honraria bruta mas até muito pomposa,
Era em respeito a uma vaca que possuíra
Numa época muito oportuna
E que respondia pelo nome Generosa
A qual dera início a toda sua grande fortuna
E gerara uma dinastia bovina poderosa.
Desiludido, amarrou o touro rente ao tronco,
Pois o juazeiro seria o infame algoz.
Era um homem amargo e muito bronco,
Acostumado a fazer ouvir sua voz.
Sozinho, chorou berrando gritos ao vento
Até reconhecer a dureza do coração atroz .
De noite, sob o claro da lua cheia,
Subiu a colina penitenciando o próprio corpo.
Assim foi na primeira noite e na segunda;
Na terceira, fraco e em carne viva,
Gemeu de frio e dor e amanheceu morto,
Banhado em sangue, devorado por formigas.
Quanto ao bovídeo negro no pé de juazeiro,
Com sede, fome e sem poder fugir,
Foi sucumbindo lentamente até cair.
Dia após dia, em sofrimento a diluir,
Mugia desesperado vendo o riacho escorrer
E ele ali, de sede e fome condenado a morrer.
No sétimo dia, após um sofrimento desesperado,
Entregou-se parando de respirar.
Naquele ano houve uma terrível seca – castigo danado
E da nascente nunca mais veio água brotar.
O fato virou lenda e muitos dizem ter visto
Em noites de luar, um touro negro pela região a vagar.
A colina ganhou o nome já mencioado.
A saber, “Outeiro do Fazendeiro”,
Onde um homem cheio de culpa veio a morrer.
O juazeiro virou símbolo de suplício,
Mas diziam que o animal voltaria pra se vingar
Do malefício que fora seu prematuro sacrifício.
Muitos foram os vaqueiros e viajantes noturnos
Que afirmaram ter visto um touro negro
A perambular pelas noites daquela região,
Onde o gado aparecia morto sem explicação,
Caboclos tremiam os beiços, mandingando por proteção
E até Lampião rezou por medo da aberração.
² João Maurício de Nassau é a tradução do nome neerlandês Johann Moritz Von Nassau-Siegen, Príncipe holandês que governou a colônia de Pernambuco, então sob domínio daquela nação, de 1637 a 1644. Nascido em Dillenburg aos 17 de junho de 1604, João Maurício de Nassau faleceu em Cleves no dia 20 de Dezembro de 1679. Amado pelos pernambucanos, ele foi cognominado “O BRASILEIRO”.