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Adolf Hitler – O filho do Diabo em Pernambuco FIM
Adolf Hitler – O filho do Diabo em Pernambuco FIM

NOTA AO LEITOR: PARA SUA TOTAL COMODIDADE, ESTE LIVRO PODE SER LIDO NA ÍNTEGRA POR VOZ NEURAL SINTÉTICA, BASTA VOCÊ CLICAR NO BOTÃO LOCALIZADO AO FINAL DESTA PÁGINA! 

 

 

                      Adolf Hitler
O Filho do Diabo em Pernambuco

 

“A arte da maldade é o talento dos covardes.”
               NyllMergello


(...) mas as pistas acabaram levando os dois rumo ao interior do sertão pernambucano. Dois estranhos com cara de estrangeiros, numa pacata cidadela sertaneja.Dois homens de boa postura e aparência, Ray-Ban e olhos investigativos. Discretamente persecutórios. Circunspectos, demonstravam habilidade perscrutiva, sondandoo terreno e fazendo perguntas com tonalidade subjetiva, mas só para enganar os curiosos. Porque as coisas não eram bem assim. Existiam intenções. Sim, e havia uma missão, um objetivo, um alvo... um sujeito!
Eram perguntas discretas, mas que sempre conduziam à mesma pessoa: José Sebastião Moura, barbeiro natural da Paraíba e que havia se tornado um próspero fazendeiro em Pernambuco. Até aí nada de estranho. É até normal um homem trabalhador sair de sua terra e vencer na vida em outro lugar mais promissor. Mas o que chamava muito a atenção era a data de seu nascimento: 20 de abril de 1889! Ou seja, o sujeito teria hoje, nada mais nada menos que 126 anos de idade, com certeza o ser humano mais idoso do mundo! Por coincidência, a sua data de nascimento era a mesma de um certo personagem histórico de nome Adolf Hitler, que supostamente morrera em 30 de abril de 1945. E pra completar, o tal barbeiro, cuja certidão de óbito ainda existia pra comprovar, falecera em 09 de agosto de 1945, em João Pessoa, acometido de uma tuberculose severa. Então, como poderia ainda constar como vivente após tantos anos de sua morte?
Coisa mais doida. Algo muito errado estava por trás daquele mistério.
De qualquer modo, os homens já trabalhavam nisto há pelo menos uns dois anos, desde que dois outros agentes que haviam iniciado este trabalho, desapareceram sem deixar qualquer vestígio.
Bom, pergunta vai, pergunta vem, eles acabaram chegando à fazenda “Toca do Guará”, um lugar muito bonito com um casarão que mais parecia ter sido transportado da Baviera para o sertão pernambucano. Uma beleza de construção. Estilo colonial, mas muito germanizada. As palmeiras circundantes deixavam tudo muito mais bonito. Várias casas menores formavam algo como uma zona periférica, afastadas pouco mais de cinquenta metros do casarão. Como uma pequena vila medieval sob a proteção de um castelo. Do lado esquerdo havia uma igreja não muito grande, intermediando a vila e o casarão.
Os homens se entreolharammarotos e com um sorriso de satisfação nos lábios. Um deles franziu as sobrancelhas, satisfeito.
– Hum! “Toca do Guará’? Muito conveniente! Isto não te lembra algo?
– Ô, com certeza! Uma toca perfeita para um velho lobo!
– Ô, se não é!
Ora vejam só. Fazenda “Toca do Guará”. Guará é o lobo do Brasil. Interessante que o complexo de bunkers que consistia em quartel-general do ditador Adolf Hitler se chamava Wolfsschanze, ou, “Toca do lobo”, alemão!
Desceram da Land Rover certos de haver finalmente atingido o clímax de sua missão. Os dois estavam acelerados, corações batendo descompassadamente.
Um garotinho e uma menininha que brincavam por ali, ambos loirinhos, com mais ou menos uns 8 ou 9 anos de idade correram inocentemente na direção da porteira de ferro assim que viram os dois estranhos saindo do carro. Donas de profundos olhos azuis. Subiram o portão de ferro. Olhares serenos, mas penetrantes. Germanicamente penetrantes.
Um detalhe não pôde ser ignorado: o desenho na camiseta da garota. Mostrava duas crianças de mãos dadas de frente a uma escolinha. Acima da porta da escolinha, uma inscrição: Escolinha Rof&Nung!
Seria mera coincidência? Ora, aquele lugar parecia estar envolto numa estranha nuvem de concomitâncias e aleatoriedades. “Toca do Guará”, “Escolinha Rof&Nung”! Para as pessoas comuns, aquilo talvez não quisesse dizer nada. Mas para os dois caçadores de nazistas, no entanto, aquilo tinha um gigantesco significado. Afinal, a palavra alemã para esperança é nada mais nada menos que... HOFFNUNG! Era só usar um pouquinho de imaginação para notar o disfarce e compreender que Rof&Nung e hoffnung davam no mesmo.
– Que barato! – exclamou o homem, querendo engabelar as crianças. – Vocês estudam na escolinha Rof&Nung?
– Não é Rof&Nung, moço! – riu a menininha, inocente. – A pronúncia certa é Roffnung! Você não sabe alemão não, é?
– Ah! É verdade! Minha pronúncia é péssima! E você é uma garotinha muito inteligente, viu?
Crianças que falam alemão em pleno sertão nordestino? Mais estranho que isso só se de repente começasse a nevar. Os homens voltaram a se olhar.
– Vocês querem falar com quem?perguntou a menina. O Bisavô ainda está dormindo.
Não houve tempo para resposta. Naquele mesmo instante, três rapazes já galopavam na direção do portão. Montavam vigorosos garanhões afoitos e loucos para correr. Assim como as crianças, os rapazes também eram loiros.
Os dois homens voltaram a se olhar. Estranho, nunca haviam tomado conhecimento de nenhuma comunidade tão europeizada em pleno sertão. Aliás, aquela devia ser a parte mais verdejante de todo o nordeste. Certamente alguém havia investido rios de dinheiro para tornar aquele lugar um verdadeiro oásis.
Os rapazes saltaram habilidosamente de seus cavalos e seguiram a passos largos até a porteira de ferro. Lado a lado, como Tigers avançando para esmagar os inimigos. Por um momento, aos olhos dos dois visitantes, aqueles jovens loiros andavam a vigorosos passos de ganso, os trajes negros aterradores da SS, impecáveis mesmo ao sol tropical. Uniformes feitos para mostrar autoridade e gerar medo e respeito, como dissera Heinrich Himmler: "Eu sei que muitas pessoas irão cair quando virem esse uniforme negro; e nós sabemos que não vamos ser amados por muitos."
Os homens gelaram com a visão.Mas de repente, como se tudo não passasse de uma assustadora miragem coletiva, brincadeira imposta por um medo súbito de ambos, eis que os jovens vestiam gibão e todos os acessórios peculiares a um vaqueiro nordestino. E eram os vaqueiros mais estranhos que alguém já vira. A não ser que aquele sertãozão de Deus estivesse localizado no lugar errado. Porque os jovens fugiam completamente ao típico perfil dos vaqueiros do Nordeste. Não bastasse toda aquela louridão, olhos profundamente azuis, eram enormes e fortes. Pelo menos de um metro e oitenta pra cima, verdadeiros bárbaros.
– Boa tarde! Pois não?
Mas o sotaque mostrava que eram filhos do sertão. Então, o que havia de errado?
– Boa tarde! Nós só paramos pra admirar sua propriedade, muito bonita!
– É mesmo uma beleza! – completou o outro homem.
Os três rapazes trocaram um olhar divertido e ligeiramente dissimulado, como se soubessem mais do que os estranhos pudessem imaginar.
– Outros já vieram aqui e tiveram a mesma reação! Parece que a nossa fazenda vaiacabarvirando ponto turístico!
O nordestinês era claro e natural, mas havia vestígios de sotaque estrangeiro.
– E isso é ruim?
– Somos gente pacata, moço. Gostamos de viver em paz, sem as agitações típicas de cidade. Queremos continuar assim.
O rapaz se aproximou e abraçou as crianças.
– Não é mesmo crianças?
As crianças concordaram em uníssono.
– Casarão incrível esse, a quem pertence? Que mal lhe pergunte?
O rapaz se voltou na direção do casarão, depois olhou pros homens.
– É de nosso bisavô, o coronel Sebastião Moura! Já ouviram falar?
Sebastião Moura! Os homens se olharam num misto de curiosidade e espanto.
– Seu bisavô? Interessante! Enquanto muitos mal conheceram seus avós, vocês tem até bisavô! Fantástico! E sua bisavó, também ainda vive?
– Oh, não, não. Infelizmente ela morreu há muito tempo. Nenhum de nós a conheceu.
O segundo homem entrou na conversa.
– Seu bisavô deve ser um homem muito sofisticado. A arquitetura tem um toque bastante europeu, né?
– Alemão, senhor...
– Alfredo! E meu amigo se chama Renato, interveio o primeiro homem, com um discreto olhar de censura para o companheiro.
– Pois bem, senhor Alfredo e senhor Renato, a arquitetura é alemã. Nossa família é originária de lá, sabe? Nosso bisavô, por exemplo, é austríaco, o jovem frisou bem a última palavra.
Os dois homens voltaram a se entreolhar, cúmplices e subitamente intimidados.Austríaco! Como Adolf Hitler! Disfarçando o repentino nervosismo que o impelia a um sentimento de precaução, Alfredo continuou.
– Seu bisavô deve ser muito culto e popular por aqui, não?
– Na verdade, não, senhor, ele é reservado demais e nunca gostou muito de aparecer! É um homem muito discreto, de poucas e breves palavras!Sem contar que já é bem idoso, como os senhores podem imaginar.
– Isso é verdade – o segundo homem novamente entrou na conversa – . Poucas pessoas conseguem ser tão longevas, ainda mais tendo uma história tão...
– Deve ter uma saúde de ferro – interveio novamente Alfredo, cortando as palavras do amigo antes que ele falasse demais.
Mas as palavras interrompidas de Renato e a intervenção de Alfredo não passaram despercebidas pelos três jovens, que se olharam discretamente.
– Apesar da idade avançada, nosso bisavô ainda é muito lúcido.
– É realmente um legítimo bárbaro, não? Um grande líder.
– Sim. No passado ele foi um grande führer!
Os olhos do jovem brilharam ao pronunciar a última palavras. Pareceu soar como uma provocação.
Novamente Alfredo e Renato se olharam, corações descompassados pela perigosa certeza de estarem no caminho.
– Desculpe, não entendi a última palavra, gaguejou Alfredo.
– Eu disse que nosso bisavô já foi um grande führer no passado. Führer é uma palavra alemã que significa líder.
– Ah! Interessante. Bom, foi uma conversa muito boa, mas a gente precisa ir.
– Mas isso é uma pena, porque nós pensamos que os senhores gostariam de conhecer o nosso bisavô.
– Conhecer o seu bisavô?
– Por que não? Acho que ele não vai se incomodar. Será bom para ele ver gente nova. E este é exatamente o horário da manhã em que ele costuma pegar sol.
– Bem, é que...
– Não vão incomodar em nada. Entrem, entrem. Entrem e nos acompanhem.
– Seria melhor outro dia, é que...
Os outros dois rapazes se aproximaram e abriram a porteira, fazendo sinal para que Alfredo e Renato entrassem. Aquilo não soava como um convite, mas como uma ordem sem espaço para recusa.
– É. Vamos nessa, vai ser demais conhecer o seu bisavô.
E os homens entraram na propriedade. Na “toca do guará”. O jovem na frente, os dois no meio e os outros dois rapazes atrás. Da porteira, as crianças observavam curiosas.
– Você não disse seu nome?
Alfredo tentou quebrar o gelo, pois estava estranhamente nervoso.
– Ah! Desculpe, eu me chamo Adolfo! – respondeu com espontaneidade o rapaz, enquanto se voltava na direção dos dois, um sorriso a iluminar o rosto. – Foi um nome escolhido pelo bisavô. Aliás, todos os nossos nomes foram escolhidos por ele.
Alfredo olhou para Renato, e este correspondeu com um olhar fulminante de tensão. “Adolfo”! Seria apenas mais uma bizarra coincidência? Difícil de engolir. Não era preciso ser gênio para entender que tudo ali estava intrinsecamente ligado de alguma forma a Adolf Hitler.
Quanto mais os dois agentes se apercebiam das coisas, mais se sentiam envolvidos por uma inevitável tensão.Como se estivessem prestes a se confrontar com seus piores medos.

– Os dois mal-encarados aíatrás – apontou para os dois amigos na retaguarda – são Arthur e Albert, meus primos. Mas nós somos apenas três de um verdadeiro exército de primos e primas, riu Adolfo, parando diante dos demais.– As duas crianças que os senhores conheceram são meus irmãos, Alois e Charlotte.
Inacreditável! Os nomes dos dois rapazes não significavam muito, exceto que também eram de origem germânica. Já os nomes das crianças... Bom, pra começar, Alois era o nome do pai de Adolf Hitler! Já Charlotte correspondia a ninguém menos que uma jovem francesa de sobrenome Lobjoie, de apenas 16 anos, que teria engravidado de Adolf Hitler em 1917. O suposto filho, Jean-Marie Loret, veio a falecer em 1984, aos 67 anos de idade.
Aquilo estava ficando bem interessante. Em tudo parecia haver algum detalhezinho de Alemanha. Como que para servir de lembrete sobre suas origens. Que outras surpresas interessantes ainda viriam? Tudo aquilo era muito emocionante. Ao mesmo tempo, tão perturbador. Masnão deixava de ser também aterrador. Era como se o passado negro estivesse sendo trazido de volta à vida.
Um imponentealpendre enfeitava a parte frontal do casarão. Nas extremidades, estátuas em tamanho natural pareciam observar tudo, como vigilantes imóveis e silenciosos. Dois lobos. Pareciam estar vivos.
Tudo naquele lugar parecia seguir uma regra. Notável como Arthur e Albertse comportavam enquanto Adolfo agia como um porta-voz diante das duas supostas visitas. Como se prestassem obediênciauma hierarquia, uma disciplina estabelecida. Ao mesmo tempo, não se podia negar o brilho de inteligência em seus olhares vigorosos, além da saúde visível em seus portes físicos. A postura ereta, mais que educação, sugeria uma influência militar.
A presença de várias moças loiras chamou a atenção dos dois homens. Conversavam e riam descontraídas, enquanto uma delas escovava um enorme cavalo negro. Aquele era um garanhão digno de um rei. Assim que notaram os dois estranhos, fizeram um gesto cordial de reverência, sendo imediatamente correspondidas.Eram jovens muito bonitas, de tirar o fôlego.
O padrão ali naquela propriedade era certamente um diferencial em relação ao mundo lá fora. Tudo cheirava a Primeiro Mundo.
A moça do cavalo se aproximou, sendo acompanhada pelas demais.
– Vocês são de Recife? – perguntou.
– Sim, sim! Pretendemos comprar um pedaço de terra nesta região, por isso estamos aqui, respondeu Alfredo.
– Com tanto lugar, vieram procurar terra justo aqui?
A pergunta soou como uma ironia e a risadinha no canto esquerdo de sua boca explicitava isso.
– Ah! Pára com isso, Eva! Qual o problema? – reclamou educadamente o Adolfo. – Para quem quer desaparecer, lugar melhor que o sertão não pode existir. Digo, desaparecer da agitação da cidade grande, né?
Eva? Desaparecer? Os dois homens voltaram a se entreolhar novamente. Outra coincidência? Não se chamava a amante de Adolf Hitler, Eva Anna Paula Braun? Hum! As coisas só iam se juntando e acrescentando cada vez mais. Naturalmente, sem rodeios e sem mistérios. Fluindo como as águas cristalinas de uma nascente que desliza rumo ao rio. Se por um lado as coisas não pareciam fazer sentido, por outronada podia ser mais legível e claro. E aquele desaparecer tão frisado? Seria uma ameaça?
A um olhar de Adolfo, Eva desistiu de continuar a conversa. Foi um olhar relâmpago, muito discreto, mas que não passou despercebido aos agentes.
– Então tá bom. Até logo, foi um prazer, acenou Eva se afastando com as outras garotas.
– O prazer foi nosso, Alfredo sorriu tentando mostrar naturalidade. Mas a verdade é que estava com uma estranha sensação. Ou um pressentimento, ele não sabia bem como discernir os sentimentos naquela ocasião.
– Um bonito cavalo, o de sua irmã, disse Alfredo chutando o grau de parentesco da moça com relação a Adolfo.
Adolfo voltou a sorrir com simpatia.
– Sim, é verdade! Mas não é um cavalo, é uma égua! E quanto a Eva, sim, é minha irmã. Como o senhor adivinhou? Nosso grau de parentesco é assim tão óbvio?
– Não tem como não notar a semelhança entre vocês, são muito parecidos. E a égua, qual o nome dela?
– Blondi!
Fez-se um silêncio providencial e constrangedor. Os dois agentes não voltaram a se olhar. Aquilo já estava começando a ficar embaraçoso. Outra maldita coincidência? Já não era mais possível aceitar tantas coincidências. Tudo ali remetia a alguma relação com a Alemanha ou com Adolf Hitler. Afinal, Blondi era o nome da cadela de Adolf Hitler, uma pastor-alemão que foi morta em 30 de abril de 1945, por ingestão induzida de cianeto.
Adolfo convidou os dois homens a entrar no casarão. Eles o acompanharam, adentrando uma sala ampla e repleta de quadros. Móveis antigos davam ao ambiente uma elegância impecável. Os quadros eram de uma beleza sombria. O sertão visto por alguém com uma visão muito particular. Os dois homens ficaram estupefatos. Nunca tinham visto quadros tão penetrantes. Os contrastes do sertão em perspectiva e profundidade. Verdadeiras obras de arte, trabalhos de um gênio. Quase hipnóticos. Vários quadros mostravam imagens que causavam reflexão e certa dose de desespero. Havia uma atmosferafúnebre, moldada por cenários melancólicos de iluminação pouco difusa e fantasmagórica. Mas as interpretações sugeridas não comprometiam o contexto na explanação de sua beleza literal. A delicadeza das pinceladas pareciam se enlevar subitamente num ímpeto de barbárie intrínseca, detalhe expresso na essência dos retoques agressivos. Era incontestável a genialidade nata de seu autor.
Definitivamente Alfredo e Renato estavam boquiabertos, e por um breve momento se esqueceram de sua missão. Estavam hipnotizados com tamanha expressão artística.
– Nunca vi quadros tão impressionantes, disse por fim Renato.
– Quem é o autor?
– Meu bisavô é um grande pintor. Mas fazia isso somente para passar o tempo. Hoje ele não pinta mais.
Ora, ora, ora! Era muito pouco provável que o rústico sapateiro paraibano, o senhor José Sebastião Moura, fosse o autor de obras tão sofisticadas como aquelas. As imagens pintadas certamente eram trabalhos de uma pessoa altamente refinada e culta. Coincidentemente, ao contrário do sapateiro nordestino (aliás, comprovadamente, mortinho da silva), Adolf Hitler era um pintor. Segundo alguns, medíocre. Mas o fato é que ele, antes de se tornar político, ditador e genocida, tentara a vida como pintor. Frustrou-se, obviamente. Adolf Hitler, a maior de todas as incógnitas da história humana.
Uma simpática senhora adentrou a sala com uma bandeja contendo vários copos de vidro.
– Um suquinho de manga para todos vocês.
Cada um pegou um copo e a mulher se retirou. Adolfo e seus primos voltaram a trocar um rápido olhar não notado pelos dois homens.
– Suco muito saboroso, digno de ser bebido diante de quadros tão magníficos. Isso aqui é uma verdadeira galeria. O público precisava ver tamanhas obras de arte.
– Melhor não opinar sobre isso quando estiver diante do bisavô, sr, Alfredo. Ele nunca gostou dessa ideia. Seus quadros são bens de família e ponto final.
Duvidar de todas aquelas evidências era ir contra a própria razão. Eles estavam definitivamente em território de lobo. Adolf Hitler ainda vivia! Diante dessa hipótese macabra e surreal, uma súbita vertigem fez Alfredo sentir o mundo girar ao seu redor. Os sons pareciam ecos distantes. Sentou-se rapidamente, senãoiria ao chão.
– O senhor está bem?
Adolfo parecia verdadeiramente preocupado.
– Foi só uma tontura, mas eu estou bem, não se preocupe.
– Deve ser o calor!
– Deve ser, hoje foi um dia bastante corrido para nós.
Uma mulher loira com cara de poucos amigos adentrou a sala.
– Ah! Não sabia que tinham visitas...
– Não tem problema, Anna Mariah. Estes dois cavalheiros gostariam de conhecer o bisavô. Pode trazê-lo.
– Mas...
– Tudo bem. Vai ser bom pro bisavô ver caras novas. Traga ele, por favor.
A tal Anna Mariah fez cara feia de reprovação, mas se calou, depois bateu os calcanhares e se retirou contrariada. Era uma mulher assustadora. Devia ter pelo menos um metro e oitenta de robustez e antipatia. Parecia um cão de guarda feroz e pronto para defender seu senhor com a própria vida.Seus passos pesados podiam ser ouvidos enquanto seguia pelo longo corredor pouco iluminado. Após o som de uma porta sendo aberta, ouviu-se ela conversando com alguém. A segunda voz provinha de um homem muito idoso. A voz rouca era frágil e pausada. E certamente não estavam conversando em português. Não demorou, a porta do quarto voltou a ranger. A tênue iluminação do corredor não permitia visualizar claramente a figura curva sentada na cadeira de rodas conduzida pela enfermeira. Vinham em direção à sala principal. Lentamente, como numa marcha fúnebre que só aumentava a tensão da expectativa. Parecia um eterno slowmotion. O suor escorria dos rostos empalidecidos dos homens, dominados por um repentino terror que beirava a morbidez. E de um momento para outro eles se entreolham pela centésima vez, olhos esbugalhados e respiração ofegante, cheios de dúvidas. Não conseguiam mais disfarçar o medo, e nem faziam mais questão! Já não sabiam mais se estavam preparados para uma revelação daquela magnitude histórica. Era perturbador demais, como se estivessem prestes a resgatar um mundo sombrio e perdido, algo que não poderia reviver e que precisava desesperadamente permanecer nas sombras do passado. Perturbador. Perturbador demais. Dois corações batendo no ritmo do desespero, o ar que não conseguia mais penetrar os pulmões, olhos arregalados em direção à figura curvada sentada na cadeira a se aproximar mais e mais como uma assombração. E o vulto da mulher logo atrás era como um fantasma flutuando de encontro à luz numa desesperada e sufocante angústia, um esforço moribundo de alcançar a redenção sob o sol. E foi quando a cadeira de rodas fez menção de emergir das sombras que os doisagentes tiveram finalmente a confirmação de sua certeza! Definitivamente eles não estavam preparados para aquilo.Era hora de abrir mão de tudo e salvar a pele. Sebo nas canelas! E assim, como dois malucos desprovidos de razão e bom senso, saíram abrupta e apressadamente da sala em direção ao alpendre, de onde num desespero absolutodispararam a passos largos em direção ao carro. Logo, os passos largos se transformaram numa corrida alucinada.Não bastasse o ridículo daquela cena cômica, ainda ouviu-se claramente os berros de um deles enquanto corria na direção da Land Rover ao longe: MAMÃÃÃÃEEE!
As três garotas, boquiabertas de espanto, pararam seus belos cavalos para contemplar a patética cena: dois policiais federais bonitões – pouco antes atraentes e aparentemente imunes ao medo – , pernas batendo nas bundas de tanto correr, deixando na retaguarda um rastro de poeira.
Lá da sala do casarão, dois pares de olhos azuis emergiam da penumbra a observar os homens correndo como dois judeus enlouquecidos. Lentamente, o idoso, com a ajuda dos três dedicados bisnetos,se ergueuda cadeira a fim de andar rumo ao alpendre, de onde ainda podia contemplar o ridículo terror de dois covardes abandonando o campo de batalha. Desertores de sua raça! frouxos! Bundões!Molengas! Sentou-se na cadeira de balanço e sorriu com desdém e desprezo.Suspirou longamente o ar do sertão, fonte de saúde e longevidade. “O que mais essa gente ingrata quer?”, resmungou.
O carro dos agentes covardes já voava longe, deixando atrás de si uma nuvem de poeira.
De repente o velho libertou uma sonora gargalhada. Os netos e a mulher o acompanharam. As jovens que se aproximavam em seus cavalos se juntaram ao coro de risos. Tão de repente quanto começou, o velho parou de sorrir, os inquietos olhos azuis fixos no horizonte.
– Esist, wie man den Bienenstockzubesiegen und nichtessenHonig. (É como derrotar a colmeia e não comer o mel.)
Disse ele.
– IstwahrUrgroßvater. (É verdadeiro, bisavô.)
Os três rapazes ficaram parados ao lado do bisavô, olhando o carro desaparecer na distância da estrada de terra. Adolfo então acariciou com carinho a cabeça do velho, em seguida o beijou. Depois completou num sussurro:

– Alleswird gut, meinUrgroßvater. DiesebeidenMännerwerdenschweigen.(Tudo vai ficar bem, meu bisavô. Esses dois homens vão ficar em silêncio.)

– Ja, meinSohn. Esist das Schweigen der Toten. (Sim, meu filho. É o silêncio dos mortos.)

 

No dia seguinte a rádio local noticiou um terrível acidente ocorrido na rodovia, no qual dois homens não identificados morreram carbonizados após o carro, que corria em altíssima velocidade, capotar na “curva da morte”, pegando fogo logo em seguida. Os dois corpos foram sepultados como indigentes.

                             

                                 Fim