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O Enigma do Homem do Granito - CAPÍTULO 1
O Enigma do Homem do Granito - CAPÍTULO 1

NOTA AO LEITOR: PARA SUA TOTAL COMODIDADE, ESTE LIVRO PODE SER LIDO NA ÍNTEGRA POR VOZ NEURAL SINTÉTICA, BASTA VOCÊ CLICAR NO BOTÃO LOCALIZADO AO FINAL DESTA PÁGINA!

Sinopse

Dois jovens sertanejos, deslumbrados pela possibilidade de riqueza rápida, partem para uma região onde foi descoberta grande jazida de ouro. O que eles não imaginam é que esta aventura em busca de riqueza se tornará a odisseia mais dramática de suas vidas.

 

 

 

Informações: adicionais


PESO: 0,16528 kg
DIMENSÕES: 21 × 29,7 × 0,36 cm
EDITORA: UICLAP
Nº PÁGINAS: 52
TAMANHO: 21 x 29,7 cm
CAPA: Fosco, SEM orelha
IMPRESSÃO: Preto e Branco (Papel Offset)
FAIXA ETÁRIA RECOMENDADA: SEM CLASSIFICAÇÃO
DATA DA PUBLICAÇÃO: 14/01/2022
TÍTULO ORIGINAL: O ENIGMA DO HOMEM DO GRANITO
AUTOR (A): Nyll Mergello

 

O Enigma do Homem do Granito

 

“Quanto àquele que é sábio, tem os olhos na cabeça;
Mas o estúpido está andando em profunda escuridão.”

          Eclesiastes 2:14

 

Capítulo 1
O Boato

 
Dois homens, um sensato e o outro nem tanto, ouviram certo boato referente à suposta descoberta de enorme filão de ouro noutras bandas, para onde afluía um verdadeiro êxodo de aventureiros e gente de toda espécie, ávidos por fortuna em curto prazo.
Sem sequer pensar duas vezes e nem ao menos cogitar a hipótese – remota ou não – de aquela notícia súbita não passar de um blefe, os dois sertanejos despediram-se de suas famílias e partiram para a região designada, onde de imediato levantaram acampamento, ansiosos e eufóricos pelo ouro e as riquezas que decerto conquistariam.


Não deixaram de estranhar aquela buraqueira infernal, além de uma devastação irracional, como se um tornado houvesse passado pelo lugar. Mais estranho ainda era a ausência de uma viv’alma sequer. Nem vestígio de garimpeiros trabalhando, assim como não havia no ar nem um sonzinho de vozes humanas. A exceção ficava por conta da orquestra incessante dos pássaros e do cantar dos grilos. Havia também o coaxar monótono dos anfíbios que abundavam às margens lamacentas do ribeirão.


Imaginaram que na certa os que anteriormente garimpavam ali, já haviam encontrado o que queriam e foram embora, dados por satisfeito. Afinal, pra que continuar a árdua labuta se já tinham o bastante? E assim, depois de confabularem entre si, os dois calouros aceitaram esta perspectiva, iludidos que estavam pelos próprios sonhos de achar o tão precioso ouro.
Naquela primeira noite, os dois companheiros, precavendo-se contra um possível ataque de alguma onça esfomeada e mal-intencionada, resolveram armar suas redes numa altura boa, a fim de dificultar ao máximo qualquer ação de predadores que certamente existiam naquelas redondezas selvagens. Não estavam nem um pouco dispostos a virar jantar de onça.
Pois bem, a essas alturas, o sensato, exaurido da longa viagem, que durara dias desde sua terra-natal, adormeceu tão logo terminou de jantar café torrado com farofa de toucinho – que por sinal estava deliciosa. Em seus sonhos não havia espaço para nada, a não ser para a esposa Maria Luíza e os três rebentos, Michell José, Melissa Maria e Alexandra Maria, de cinco, três e um ano de idade. O tão sonhado ouro poderia ficar para uma outra noite, porque naquela primeira noite longe da querida família, a saudade falava mais alto e ditava o ritmo de seu inconsciente.


Seu companheiro, no entanto, de tanta ânsia, nem pestanejava. Até parecia que já conseguia vislumbrar as pedras preciosas, tão reais eram seus devaneios. A lua nem parecia a bela dama da noite que tantas e tantas vezes o enlevara durante inesquecíveis momentos de amor e paixão. Assemelhava-se muito mais a uma enorme pepita de ouro, a cintilar sob o firmamento estrelado, iluminando as poesias dos homens e seus sonhos mais eloquentes.


Por um momento, veio-lhe à mente sua esposa, a acarinhá-lo sob o cândido luar do sertão. Mas num ímpeto, ele rebateu as lembranças que o enfraqueciam. Não podia pensar muito, pois o ouro que o esperava naquele garimpo significava uma vida melhor para sua esposa e seus filhinhos. Sim, significava a liberdade para uma vida mais digna e menos sofrida.


Quando por fim conseguiu pegar no sono, eis que se viu flutuando sobre o garimpo. Era tudo muito real. Ele até podia sentir a brisa da noite a penetrar seus pulmões. De repente ele viu um abismo e voou na direção do mesmo, adentrando-o. Era um buraco negro e claustrofóbico. Tão profundo que não se via o fundo.


E ele foi descendo, descendo e descendo cada vez mais, quando gradualmente a escuridão foi dando lugar a uma fraca iluminação distante. E quanto mais ele se aproximava, mais a luz também se intensificava. E então veio o deslumbre absoluto. Tudo se iluminou subitamente num resplandecente fulgor encantado, como num passe de mágica. Tão intensa era a luminosidade, como se o próprio sol estivesse ali dentro daquele buraco negro. Mas não era o sol, e sim o brilho produzido por uma vasta jazida de ouro e diamantes. Tudo ali, incrustado nas paredes e ao alcance de suas mãos trêmulas de êxtase.


Ele não pôde conter o espanto em forma de uma risada histérica de pura alegria. Estava inebriado por tudo aquilo. Era enfim um homem rico. Mas rico de verdade, com tanta riqueza que nem em várias gerações sua família corria risco de sentir os dissabores da pobreza.
Mas de repente, para seu espanto, o brilho foi desaparecendo, como se tudo estivesse sendo tragado pelas trevas, numa morredoura sequência de espasmos luminosos, enquanto rapidamente as paredes do abismo se contraíam em sua direção para esmagá-lo. Ele não conseguia fugir, inerte e à espera do que parecia iminente. Tentou gritar, mas não conseguiu, pois fugia-lhe o ar juntamente com suas forças. E tudo ficou repentinamente escuro como breu. Ele se debateu, se contorceu, tentou berrar, mas sem sucesso. Até que para alívio, despertou num sobressalto, arfante e cansado, como se houvesse saído de um árduo trabalho braçal. Ficou aliviado, afinal tudo não passara de um sonho. Respirou fundo e olhou para o céu, onde a dama da noite, bela como nunca antes, iluminava a terra.
 
De qualquer maneira, ele não conseguiu mais recuperar o sono, pois ficara muito impressionado. Em seus pensamentos, preferiu eliminar as partes ruins do sonho que tivera, aproveitando apenas as boas, aquelas dos diamantes reluzentes e do ouro que iluminavam a escuridão do insondável abismo.


De manhãzinha, mal o outro abriu os olhos, eis lá ele, gesticulando euforicamente enquanto relatava o sonho que tivera na noite anterior. Seus olhos chamejavam de deslumbre.
Contagiado pela sua euforia, o amigo concordou que seu sonho só podia mesmo ser um aviso de que eles estavam no lugar certo. Sim, aquilo só podia ser um aviso da providência divina.
Tomaram um apressado café e imediatamente começaram a sondar a área a fim de escolher o local certo para iniciar os trabalhos. De comum acordo, decidiram dividir a área em dois setores. Cada um ficou com uma. Estavam convictos de que achariam algo rapidamente.
Dessa forma começaram a garimpagem sem mais demora. Um ali, o outro acolá. E tome enxada para cavar, e tome pá para retirar terra e barro. E tome peneiras para peneirar. E lá se vão banhos de suor sob o calor úmido em meio a pernilongos e mosquitos. A cor do ribeiro denunciava o trabalho exasperante deflagrado pelos dois jovens. Um assobiava feliz da vida, enquanto o outro cantarolava uma antiga cantiga ancestral, que aprendera com sua mãe.

No primeiro dia, nem sinal das benditas pedras preciosas. Mas eles não desanimaram, pois estavam certos de que conseguiriam seus intentos. E assim, foram-se também o segundo e o terceiro dia. Eles, no entanto mantiveram o ritmo frenético, e quando chegava à noite, estavam muito exaustos. Não raro, nem comiam nada antes de dormir. Simplesmente deitavam em suas redes e adormeciam dominados pelo cansaço do árduo trabalho diário em busca da riqueza tão sonhada. Mas eles mantinham o ritmo, sem desanimar, pois as pepitas só viriam após muito suor derramado. Tinham que batalhar para merecê-las. Precisavam fazer jus à providência divina. Afinal, o próprio Deus disse: “faz por ti que eu te ajudarei”.

Assim, entre peneiras e enxadas, eles cavaram, peneiraram, cavaram, peneiraram e cavaram e peneiraram mais e mais durante muitos dias, num lugar após outro, incansável e destemidamente, certos de que sua busca teria um agradável resultado. Não se importavam com o sol a pino e o calor escaldante ou com os mosquitos que transformavam os dias num inferno.

Ao escurecer, os sons da noite se expandiam nos obscuros negros da floresta. Mas a tensão do desconhecido era amenizada pela orquestra dos grilos, que faziam-se ouvir, acompanhados pelo coaxar incessante dos sapos no ribeiro. Mas as muriçocas eram um tormento digno de ser amaldiçoado.

Ao raiar do dia seguinte, prosseguiam sem trégua, indiferentes às conjecturas da própria razão.