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A Maldição do Barbatão Negro - CAPÍTULO 6
A Maldição do Barbatão Negro - CAPÍTULO 6

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 CAPÍTULO 6

O TERRÍVEL CONFRONTO


Andando com toda prudência
E natural instinto de bravo voraz,
José teve um mau pressentimento
E então pensou em voltar atrás,
Mas o cavalo empinou numa saliência
Permitindo ao jovem uma súbita visão audaz.


Parado ao lado do velho juazeiro,
Lá estava o espectro negro,
Imponente ao luar (como que a esperar).
Seus olhos pareciam duas tochas,
Enquanto o nevoeiro se expandia
E o cavalo ansioso começou a relinchar.


José começou a entoar um aboio triste,
Mas o touro fungou, indiferente e azedo
Numa insensível e violenta reação,
Depois investiu contra o formoso garanhão,
Que agilmente conseguiu se esquivar
Numa perfeita e providenciosa evasão.


Salvando-se por um triz,
José gritou: “Êpa, touro brabo!”.
Segurou a corda, preparando o laço
E sorriu um pouco alvoroçado.
Depois, num pinote oportunista,
Lançou a corda e errou o alvo.


Frustrado, achou estranho o ocorrido.
Afinal de contas era craque no laço,
Quase impossível de ser vencido.
Então lançou de novo usando seu talento,
Mas era como se sua corda certeira
Estivesse sendo lançada contra o vento.


E o touro de ébano, como que ensandecido,
Mostrava ser um páreo duro,
Fungando como um demônio enlouquecido.
E enquanto o mundo ficava escuro,
O estresse amargo já era percebido
(Estavam quase saindo no murro.)


Por bem mais de uma longa hora,
Relinchos e mugidos ecoaram
Ofuscando a clareza da razão.
De repente tudo somente indicava
Que o caçador virara caça
E a caça virara um leão.


A luta intensa ficou sangrenta
Quando o cavalo, numa investida,
Perdeu o equilíbrio na partida
E mancando se chocou contra o pé de juá.
Prensado, o mancebo liberou um grito
E o cavalo, aflito, deu a relinchar.


José caiu no chão, tonto e desorientado.
Pôs a mão no peito, sobre o gibão...
O sangue abundante escorria do lado,
Bem de onde um enorme graveto
Estava profundamente enfiado
Igual um anzol encravado.

Tentou puxar, mas gemeu de dor.
Era um momento de desespero
E ele então respirou fundo,
Tentando reprimir o oriundo pavor.
Então um frio repentino suprimiu o calor
E ele desabou sentindo girar o mundo.


O garanhão, numa agonia atroz,
Não conseguia do chão se reerguer
(Pelo jeito quebrara a pata)
E enquanto o barbatão o pisoteava
E furiosamente o marrava,
Ele foi parando de se mexer.


Furioso, José gritava e chorava
Pelo eqüino amigo muito querido
De muitas vaquejadas vencidas.
Mas não podia fazer absolutamente nada,
Pois caíra em desastrosa cilada,
Inutilizado pela dolorosa ferida.


No tronco do juazeiro postado,
O vaqueiro, ofegante de dôr
E quase sem conseguir respirar,
Lembrou-se de Maria, seu amor,
Em casa a lhe esperar
Com um brilho de saudade no olhar.


Deslumbrado num súbito devaneio
De mórbido clamor entorpecido,
Lamentou profundamente por nunca haver
Agradecido ao bom Deus pela dádiva
De estar amando intensamente
De coração, mente, alma e libido.


Pensou nos filhinhos gêmeos
Sorrindo a correr para afagá-lo
E a linda Maria de braços abertos
Pronta para afavelmente estreitá-lo.
E além do mais, para variar,
Na certa preparara um delicioso jantar.


Reunindo todas as forças,
Ele por fim se levantou
Buscando apoio no frondoso pé de juá.
Quando então pensou que não,
O monstro já vinha disparado
Em sua direção para o marrar.


José só teve tempo de proferir
Uma breve e desesperada oração,
Quando de repente o touro sem arrego,
Olhos brilhando na escuridão,
Atingiu em cheio o vigoroso mancebo,
Esmagando-lhe o apaixonado coração.